domingo, 19 de junho de 2011

sentir


Já faz algum tempo, eu e a minha querida amiga Renata Corrêa estavamos indo ver um filme na cinemateca e no caminho estavamos conversando sobre como algumas pessoas do "meio cinematográfico" parecem que vivem pra pensar cinema. Eles vêem filmes, debatem, escrevem, lêem sobre e sabem tudo sobre todos os filmes que já foram lançados no mundo. Infelizmente (ou felizmente, eu realmente não sei dizer...) nós duas não somos dessas "nerds do cinema", é claro que nós estudamos e tentamos nos atualizar sempre, mas teorizar muito sobre o nosso trabalho não é a nossa grande pira, o nosso negócio é a prática. E na hora de fazer um filme (seja a direção de arte - no meu caso - ou a direção de fotografia - pra Rê), as vezes a melhor escolha para nós acaba sendo o que nós sentimos que é certo, achamos mais bonito ou nos toca de algum jeito, o que as vezes pode parecer meio amador ou ingênuo.

Lá estavamos nós, pensando sobre tudo isso, quando chegamos na cinemateca e fomos ver o filme, o "Chantal Akerman, de cá" (cuja foto está acima), do Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira. Por uma coincidência absurda do destino (se é que existem coincidências...), num determinado momento do filme a Chantal falava sobre como ela escolhia seus enquadramentos e ela disse que olhava para a cena, pensava como queria mostrar aquilo e enquadrava, ela simplesmente "sentia que era assim". Ela disse: "eu tento fazer as coisas de uma forma mais racional, mas quando eu faço isso eu fico triste, não parece certo", ela recorre aos instintos dela, faz muitas coisas pelo feeling e trabalha com pessoas que "ouvem seus pensamentos", que sabem o que ela quer sem ela ter que pedir, como acontece com a fotografa e a editora dela.

E eis que até pessoas geniais, como a Chantal, sentem e fazem suas escolhas baseadas nisso. Mesmo com toda teoria do mundo é impossível você aprender a ter a "coisa" que essas pessoas tem, aquele negócio que você não tem como aprender a fazer, mas quando você olha a obra de alguém foda você vê, ela tá lá. Seja a sensibilidade de quem fez, o bom gosto, a criatividade, ou tudo junto, mas é essa "coisa" que faz você reconhecer a obra dessas pessoas e faz com que elas sejam sensacionais, isso você tem porque você tem, e cabe só a você saber usá-lo ou sentí-lo.

Eu admiro muito os teóricos e sei que por mais que eu estude eu nunca conseguirei explicar as coisas tão bem quanto eles explicam - só eu sei o quanto eu sofro pra fazer textos (como esse, por exemplo) e passar pra palavras as coisas que estão na minha cabeça. Mas eu acho, por mais fofinho e auto ajuda que isso possa parecer, que agora eu quero experimentar o sentir, o "ir pelos meus instintos", algo que eu já fazia antes, mas sempre com uma mini culpa. Acho que principalmente quando você trabalha com cinema, fotografia ou qualquer coisa que envolva criação, esse "sentir" tá muito ligado com essa "coisa", que eu não sei bem o que é, mas que todas as pessoas que eu admiro tem. O que eu quero fazer agora é usar o que eu sei junto com o que eu sinto que está certo, o que eu acho que tem que ser feito porque eu acho bonito ou porque eu gosto, mesmo sem nenhuma explicação lógica pra isso. Vou fugir da bolha da teoria, sem medo de ser feliz, deixar de lado as coisas que são "inspiradas nos conceitos de X" e me jogar no buraco do "eu acho que isso vai ficar bonito assim, vou testar", mesmo sem saber bem onde eu vou cair.

Um comentário:

  1. ana, que lindo <3
    como vc sabe, também sinto isso.
    e me sinto muito feliz de ter encontrado vc e as meninas, com toda essa "coisa", toda essa conexão cósmica de jesus querido.

    <3

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