sexta-feira, 30 de abril de 2010

nhac!



Eu não domino nem um pouco a arte da culinária, mas ela sempre me instigou. na minha família comer não é só se alimentar, é um ritual, um encontro, uma forma de agradar quem vc gosta. E eu, como boa Málaga, também sou dessa opinião. Apesar de eu saber fazer bem poucas coisas gostosas (podem ser poucas, mas são deliciosas!), gosto bastante de observar o processo inteiro de preparo de uma refeição.

Tudo na cozinha te abre várias possibilidades e pode chegar a infinitas soluções. A escolha dos ingredientes, o modo como vc vai prepará-los, a receita que vc vai escolher para preparar, o modo como vc vai apresentar sua refeição, o vinho ou o suco ou o chá que vai acompanhar o prato, tudo vai interferir na maneira como a pessoa vai degustar o prato. Os melhores cozinheiros que eu conheço gostam de mudar receitas de livros, inventar pratos e sempre têm uma mesa cheia de admiradores, não é a toa. O legal é testar, fazer pratos que vc coma com os olhos e com o olfato antes mesmo de colocar o garfo na boca!

E para experimentar vale tudo: comida colorida , receita desenhada, comidas bizarras, receitas descoladas, comida de mentira, qualquer coisa. Dê asas à sua imaginação, pq criatividade é item de primeira necessidade na cozinha.

Mas não adianta tudo isso se vc não cozinha com amor. É brega, mas é verdade, até o Alex Atala concorda comigo. Pq vc acha que comida de vó e de mãe é tão boa? só pode ser a dose de amor que vai na panela!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

disciplina

decidi começar por aquilo que não é o meu forte. talvez soe um pouco como papo de pedagogo ou de pessoa sem o menor pingo de força inovadora; mas eu acredito – e se eu levantasse e pegasse o meu livro sobre o processo criativo de Fayga Ostrower, ela provavelmente confirmaria – que a disciplina seja um dos alicerces de uma existência criativa. não a disciplina militar ou aquela que vinculamos justamente aos nossos primeiros anos no colégio: não falo de sentar direito ou escrever sempre com a letra redondinha. falo de respeitar o próprio espaço e honrar compromissos consigo mesmo.

nunca acreditei na criatividade como uma coisa que vem de dentro, assim “do nada” e nos leva a um mundo maravilhoso como aquele em que Alice conheceu o coelho. nesse sentido, acho justamente que os produtos culturais que piram demais não são tão criativos assim. nesse grupo, lembro sempre da propaganda bamboocha da Fanta ou de programas de “humor” como Zorra Total. o que pra mim é a criatividade real é conseguir resolver questões (até achar algo melhor, vou chamar de questões culturais) culturais de maneira eficaz. é lógico que isso soa um pouco reduzido, como se eu estivesse falando de criatividade apenas na vida de profissionais liberais como taxistas, bibliotecários ou gerentes de restaurante. mas eu acredito, pelo menos por enquanto, que esse “conceito” se aplica também a criatividades maiores, como a de artistas gráficos ou cineastas.

de qualquer maneira, voltando ao que a disciplina tem a contribuir para a criatividade: para mim o processo criativo é construido de pequenos sucessos. a disciplina ajuda a tornar esses sucessos algo recorrente, periódico, que retroalimenta a criatividade. por isso o importante não é necessariamente a forma dessa disciplina: para o mundo tanto faz se você acorda cedo ou tarde, mas saber como você vai organizar o seu dia pode ser muito relevante para a maneira de lidar com o tempo disponível; para os outros pode ser indiferente se você mantém a sua mesa vazia ou cheia de materiais que podem ser úteis quando você tiver uma idéia interessante, mas dependendo da sua forma de pensar isso pode mudar todo o processo.


então, para combinar com a temática do post, a criação que eu estou apresentando hoje não é o que chamaríamos de algo criativo por excelência; mas é uma busca de disciplina no meu espaço de trabalho. não estou sugerindo, de maneira alguma, que todos vocês passem a guardar seus sapatos em saquinhos dentro do armário. estou, isso sim, dizendo, que saber que há uma pilha de sapatos na entrada da minha casa me atrapalha criativamente e resolver isso de maneira a ter um espaço limpo é um pequeno sucesso que vai, junto com outros, criando uma espírito leve para tentar coisas mais ousadas.