terça-feira, 29 de junho de 2010

seeing ourselves



Ontem uma amiga me falou de um livro que se chama Seeing Ourselves: Women's Self-portraits . Eu achei o livro interessante já de cara, sempre achei auto retrato uma coisa muito complicada de fazer e que fotografar pessoas é muito mais dificil do que coisas e cores abstratas. Essa minha amiga, a Nathália, é ótima em retratos (olhe aqui e veja como é verdade), ela sempre consegue deixar a pessoa fotografada a vontade e consegue clicar a hora exata em que ela é ela mesma, não é só uma pessoa posando.

Depois que eu vi esse livro eu comecei a pensar em mulheres que poderiam estar nele. Pensei primeiro na Frida, pq eu e todo mundo do mundo sabemos que ela fez milhões de auto-retratos. Mas o que eu pensei, na verdade, foi na coragem dela de se retratar exatamente como ela era e como estava se sentindo. Eu sempre fico cheia de inseguranças quando me fotografo ou quando fotografo qualquer pessoa. Tenho medo de parecer feia, de mostrar imperfeições, de parecer boba... Mas a Frida não tinha medos, ela se mostrava sangrando, sofrendo, triste, ela estava sempre ali, inteira. Eu sempre acho que eu, ou quem quer que esteja na foto, não está ali de verdade, não foi representada completamente. Não acho que a pessoa tem que aparecer na foto sangrando ou sofrendo para o retrato paracer sincero, o Cartier Bresson, por exemplo, tem um livro de retratos, o Tête-à-Tête (link da Travessa em homenagem à Lú!) que mostra várias pessoas famosas em um dia de folga, ou num dia normal de trabalho. Quando eu olho as fotos desse livro me dá a nítida impressão de que eu conheço aquelas pessoas, de que elas são aquilo que está ali na foto, que elas são de verdade. É assim que um retrato tem que ser.

Voltando ao livro, eu pensei que a Miranda July e na Cindy Sherman também deveriam estar nele, mas o que elas fazem não é bem auto-retrato... A Miranda atua nos filmes dela e escreve contos em primeira pessoa, mas em nenhum dos casos ela fala de si mesma (pelo menos eu acho que, na maioria das vezes, são apenas personagens, não histórias auto biográficas), o que eu gosto é que ela coloca a cara nos trabalhos dela. No Eu, você e todos nós ela dirige, faz o roteiro e é a protagonista, tem Miranda em tudo! A Cindy tbm trabalha assim, ela é a modelo de seus trabalhos fotográficos e em cada um deles ela se transforma em uma pessoa diferente, mas são sempre suas idéias e seu rosto que estão lá. Eu acho isso muito legal, e muito arriscado ao mesmo tempo.

A questão toda dos retratos é como nós nos vemos e como vemos os outros. Os problemas e as neuroses todas de "como eu vou mostrar essa pessoa? será que ela vai gostar de se ver asism? Essa foto não vai ficar feia?" estão na cabeça do fotografo, ele é quem tem que se libertar e deixar que a imagem fale. Eu acho que o negócio é testar, eu tenho que me fotografar muitas vezes até descobrir como eu faço para me mostrar de verdade, e o mesmo com retratos dos outros. O difícil é fazer a câmera ser algo normal, algo que sempre esteve ali, comentando com vc aquilo que vcs estão vendo, não uma daquelas pessoas assustadoras que ficam te olhando e te julgando. E no fim ela é só uma câmera, um clique, não é um quadro que vai ser feito pincelada por pincelada até o fim, me dando bastante tempo pra pensar em tudo que eu estou mostrando ou escondendo naquela imagem. É só um clique, nem dói.

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