terça-feira, 4 de maio de 2010

disciplina II

Philip Glass em retrato de Chuck Close e Maria Montessori em foto do Google Imagens

faz alguns meses eu me mudei para um apartamento novo. numa cidade nova. eu vim morar com uma pessoa nova. quer dizer, não uma pessoa completamente nova, mas um pessoa com a qual eu nunca tinha morado. escrevo tudo isso para voltar, de leve, ao assunto do meu post anterior, porque tem duas coisas muito importantes que ficaram de fora e que eu preciso retomar para ter aquela sensação de missão cumprida (pelo menos por uns dias e em relação àquele post, exclusivamente – acho). a primeira coisa é Maria Montessori; e segunda é a rotina de Philip Glass. vamos por partes.

1. como não sei até que ponto os meus leitores conhecem a trajetória da minha pedagoga preferida, vou falar do que sei (que não é tanto assim) e nos interessa. MM foi a primeira mulher a se formar em medicina na europa, nos idos de 1896, mas o importante é que ela se interessava por crianças e pelos seus processos de aprendizado. em suas pesquisas sobre anormais, foi percebendo que o professor deveria servir como ponto de apoio, como uma espécie de quadro branco onde o aluno pudesse expor o que tem dentro de si, achando uma forma de organizar esses pensamentos e sentimentos. ela chegou a elaborar todo um método (que eu acho maravilhoso! e) que ainda hoje é utilizado em muitas escolas montessorianas e simpatizantes, mas acho que, mesmo sem falar de material dourado ou da maneira como ela propunha interpretar textos, podemos ver que a simples maneira de organizar (tudo) que ela propunha é superlegal no sentido de gerar uma disciplina para a criatividade. ela acreditava que a organização do espaço possibilita a organização dentro da mente. por isso, as salas de aula deveriam sempre estar limpas, com as mesas alinhadas, com os materiais organizados limpamente nas estantes, etc. ela era praticamente uma pessoa com TOC, mas um TOC do bem.

2. estes dias, no Parque Lage, eu estava vendo um documentário sobre Philip Glass. o que eu achei interessante, no entanto, não tinha nada a ver com a sua música: em um dos momentos filmados na sua casa de campo, enquanto ele fazia pizza, ele comentou que só tinha um segredo, um único segredo. e esse segredo era “acordar cedo todos os dias e trabalhar”. imagino que eu contando assim, sem mais nem menos, não tenha o mesmo efeito que ver esse senhor fantástico, aos seus 70 anos, fazendo pizza para os filhos, dizer isso. de qualquer maneira, acho que cabe muito bem neste contexto, porque a rotina também é gerada dentro do espaço.

voltando para o meu apartamento novo: comecei o post assim porque hoje, depois de voltar do trabalho, eu tirei uma sonequinha que durou mais ou menos 3 horas. quando eu acordei pensei: vou escrever. logo pensei: mas a mesa do escritório está suja (aqui entra o elemento cidade nova: poluição entra pela janela). depois pensei: **da-se, não vou. muito tempo depois, assim que terminei de corrigir as minhas provas na mesa da sala, que não estava bagunçada nem suja, pensei: vou tentar. tentei e consegui, mas ainda assim tenho a nítida sensação de ter de criar intimidade com os meus espaço e tempo para conseguir de fato ter a tal disciplina na criatividade.

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