terça-feira, 8 de junho de 2010

fora da minha bolha



No fim do ano passado eu tive a sorte de ver a exposição do Kandinsky, para comemorar os 50 anos do Guggenheim. O museu (que já é lindo sozinho, sem quadro nenhum) inteiro só tinha Kandinsky e os quadros estavam expostos em ordem cronológica, daí dava pra ver a evolução dele, como ele pensava antes e como sua visão foi mudando com o passar do tempo. Do lado de cada nova fase de quadros que começava tinha uma explicação dizendo o que o Kandinsky estava fazendo da vida naquela época e o que inspirava ele a pintar naquele período. Os períodos que mais me intrigaram foram o que ele começou a fazer pinturas abstratas e os quadros do fim da vida dele. Eles me interessaram não pela história, mas pelas coisas que o inspiravam a pintar.

Em 1896, Kands foi ver uma ópera de Richard Wagner, a Lohengrin, e enquanto ele via/ouvia a ópera ele começou a ver cores e formas. Há quem diga que Kandinsky era sinestésico, eu não sei se é verdade, mas o que importa é que a partir desse dia ele começou a defender a relação da pintura com a música e pintar demonstrando emoções e sons, não querendo representar nada como realmente é. Lá no Guggenheim, quando você digitava o número desse quadro (que eu bem burra não anotei o nome...) no telefoninho-com-explicações vc podia ouvir a música que inspirou ele a pintar. Era lindo ver como as cores e os traços se relacionavam com o que você estava ouvindo. Eu escutava e via os traços pretos, os cores suaves, as formas e meu olho ia dançando no quadro. Lindo.



Já no fim de sua vida, Kandinsky foi morar em Paris e passou a se dedicar só à sua arte, sem preocupações, sem normas. Ele começou então a pintar quadros inspirados em imagens da biologia, criando formas que pareciam amebas, larvas e microorganismos. Eu achei isso lindo e super espirituoso! Fico imaginando um senhorzinho, que colecionava imagens de insetos e animais desde seu período na Bauhaus, sentadinho perto da janela pintando um quadro igual a esse aí embaixo e se divertindo com as formas e cores.



Desde que eu vi essa exposição eu fiquei pensando em como é importante fazer coisas fora de sua área e fora do seu cotidiano para inspirar sua criatividade. Quando eu fazia publicidade meus professores cobravam idéias geniais, queriam campanhas mega criativas, mas nenhum deles nos indicou algum filme legal, falou para ir em algum show que tivesse na cidade ou pediu pra gente buscar uma palheta de cores baseada na vida dos animais marinhos dos abismos. A gente tem que sair do nosso quadradinho e olhar esse mundão aí fora pra achar coisas que nos inspirem. Já faz 2 anos que eu trabalho na Oficina de Música (fazendo vídeos como esse) e acho que se eu vi 4 pessoas que fazem faculdade de cinema comigo indo nos espetáculos foi muito. É claro que ver filme é importante, que ler livros teóricos é importante, mas a Lina Chamie (uma das melhores professoras que eu tive na vida) é cineasta, formada em música e quando eu perguntei pra ela o que eu tinha que ver em NY, achando que ela ia me indicar coisas essenciais pra minha vida acadêmica, ela disse: “esquece cinema! Você tem que ir em todos os museus, tem que ir ver alguma coisa no Metropolitan e tem que comer o hamburger do Ken & Bobs!” foram as dicas mais legais que eu podia receber!

Eu voltei de viagem cheia de idéias e cheia de vontade de produzir. E pra não dizer que eu não vi nada de cinema, eu vi a exposição do Tim Burton, que foi maravilhosa e me provou mais uma vez que você tem que fugir da sua bolha e tentar sempre buscar e fazer coisas novas. Afinal, o Tim é cineasta, mas já escreveu livros e faz milhares de pinturas e desenhos lindos.

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